terça-feira, 30 de março de 2010

em edição

























-------------------------







em edição

teste


COC

Macacos me mordam - Fernando Sabino

Macacos me mordam

(Fernando Sabino)

Morador de uma cidade do interior de Minas me deu conhecimento do fato: diz ele que há tempos um cientista local passou telegrama para outro cientista, amigo seu, residente em Manaus:

“Obsequio providenciar remessa 1 ou 2 macacos”.

Necessitava ele de fazer algumas inoculações em macaco, animal difícil de ser encontrado na localidade. Um belo dia, já esquecido da encomenda, recebeu resposta:

“Providenciada remessa 600 restante seguirá oportunamente”.

Não entendeu bem: o amigo lhe arranjara apenas um macaco, por seiscentos cruzeiros? Ficou aguardando, e só foi entender quando o chefe da estação veio comunicar-lhe:

– Professor, chegou sua encomenda. Aqui esta o conhecimento para o senhor assinar. Foi preciso trem especial.

E acrescentou:

– É macaco que não acaba mais!

Ficou aterrado: o telégrafo errara ao transmitir “1 ou 2 macacos”, transmitira “1002 macacos”! E na estação, para começar, nada menos que seiscentos macacos engaiolados aguardavam desembaraço. Telegrafou imediatamente ao amigo:

“Pelo amor Santa Maria Virgem suspenda remessa restante”.

Ia para a estação, mas a população local, surpreendida pelo acontecimento, já se concentrava ali, curiosa, entusiasmada, apreensiva:

– O que será que o professor pretende com tanto macaco?

E a macacada, impaciente e faminta, aguardava destino, empilhada em gaiolas na plataforma da estação, divertindo a todos com suas macaquices. O professor não teve coragem de aproximar-se: fugiu correndo, foi se esconder no fundo de sua casa. A noite, porém, o agente da estação veio desentocá-la:

– Professor, pelo amor de Deus, vem dar um jeito naquilo.

O professor pediu tempo para pensar. O homem coçava a cabeça, perplexo:

– Professor, nós todos temos muita estima e muito respeito pelo senhor, mas tenha paciência: se o senhor não der um jeito eu vou mandar trazer a macacada para sua casa.

– Para minha casa? Você está maluco?

O impasse prolongou-se ao longo de todo o dia seguinte. Na cidade não se comentava outra coisa, e os ditos espirituosos circulavam:

– Macacos me mordam!

– Macaco, olha o teu rabo.

A noite, como o professor não se mexesse, o chefe da estação convocou as pessoas gradas do lugar: o prefeito, o delegado, o juiz.

– Mandar de volta por conta da prefeitura?

– A prefeitura não tem dinheiro para gastar com macacos.

– O professor muito menos.

– Já estão famintos, não sei o que fazer.

– Matar? Mas isso seria uma carnificina!

– Nada disso – ponderou o delegado: – Dizem que macaco guisado é um bom prato...

Ao fim do segundo dia, o agente da estação, por conta própria, não tendo outra alternativa, apelou para o último recurso – o trágico, o espantoso recurso da pátria em perigo: soltar os macacos. E como os habitantes de Leide durante o cerco espanhol, soltando os diques do mar do Norte para salvar a honra da Holanda, mandou soltar os macacos. E os macacos foram soltos! E o mar do Norte, alegre e sinistro, saltou para a terra com a braveza dos touros que saltam para a arena quando se lhes abre o curral – ou como macacos saltam para a cidade quando se lhes abre a gaiola. Porque a macacada, alegre e sinistra, imediatamente invadiu a cidade em panico. Naquela noite ninguém teve sossego. Quando a mocinha distraída se despia para dormir, um macaco estendeu o braço da janela e arrebatou-lhe a camisola. No botequim, os fregueses da cerveja habitual deram com seu lugar ocupado por macacos. A bilheteira do cinema, horrorizada, desmaiara, ante o braço cabeludo que se estendeu através das grades para adquirir uma entrada. A partida de sinuca foi interrompida porque de súbito despregou-se do teto ao pano verde um macaco e fugiu com a bola 7. Ai de quem descascasse preguiçosamente uma banana! Antes de levá-la à boca um braço de macaco saído não se sabia de onde a surrupiava. No barbeiro, houve um momento em que não restava uma só cadeira vaga: todas ocupadas com macacos. E houve também o célebre macaco em casa de louças, nem um só pires restou intacto. A noite passou assim, em polvorosa. Caçadores improvisados se dispuseram a acabar com a praga – e mais de um esquivo notívago correu risco de levar um tiro nas suas esquivanças, confundido com macaco dentro da noite.

No dia seguinte a situação perdurava: não houve aula na escola pública, porque os macacos foram os primeiros a chegar. O sino da igreja badalava freneticamente desde cedo, apinhado de macacos, ainda que o vigário houvesse por bem suspender a missa naquela manhã, porque havia macaco escondido até na sacristia.

Depois, com o correr dos dias e dos macacos, eles foram escasseando. Alguns morreram de fome ou caçados implacavelmente. Outros fugiram para a floresta, outros acabaram mesmo comidos ao jantar, guisados como sugerira o delegado, nas mesas mais pobres. Um ou outro surgia ainda de vez em quando num telhado, esquálido, assustado, com bandeirinha branca pedindo paz à molecada que o perseguia com pedras. Durante muito tempo, porém, sua presença perturbadora pairou no ar da cidade. O professor não chegou a servir-se de nenhum para suas experiências. Caíra doente, nunca mais pusera os pés na rua, embora durante algum tempo muitos insistissem em visitá-la pela janela.

Vai um dia, a cidade já em paz, o professor recebe outro telegrama de seu amigo em Manaus:

“Seguiu resto encomenda”.

Não teve dúvidas: assim mesmo doente, saiu de casa imediatamente, direto para a estação, abandonou a cidade para sempre, e nunca mais se ouviu falar nele.

___________________

Fonte: SABINO, Fernando. O homem nu: crônicas. São Paulo: Círculo do Livro, s.d. p.56-58; 110-13.

7 E 8 SÉRIES - PRODUÇÃO DE TEXTO DESCRITIVO

PRODUÇÃO DE UM TEXTO DESCRITIVO BASEADO NA IMAGEM ABAIXO

5 E 6 SÉRIES - DESENHO BASEADO EM TEXTO DESCRITIVO

FAZER UM DESENHO BASEADO NO TEXTO DESCRITIVO ABAIXO

Um trilho de trem corta a paisagem, desde o início da imagem até sumir entre os montes aproximadamente no meio da cena.
À esquerda há uma enorme subida, que inicia próximo do trilho, com terra seca, algumas árvores espalhadas e somente na parte mais alta do morro há uma quantidade maior de árvores. A direita dos trilhos pode-se observar terra seca e revirada com muitas pedras, entulhos e restos de madeira, estes entulhos dão uma aparência desoladora, de abandono... Até que se chega ao final do monte em um lago calmo que finaliza a paisagem do lado direito. Em meio a essa paisagem, andando sobre os trilhos, há um pequeno carro de tração manual, simples, sem local para sentar e sem nenhum tipo de cobertura, por isso, os sete trabalhadores estão com roupas e chapéu para se protegerem do sol. O céu está limpo, sem nenhuma nuvem, isso aumenta a sensação de calor. Pode-se perceber que o trilho é o caminho para o local de trabalho dos homens que estão sobre o carro e que, possivelmente, vivem sem muitos recursos, sujeitando-se a um trabalho muito difícil.

domingo, 14 de março de 2010

DOM QUIXOTE PARA CRIANÇAS

DOM QUIXOTE DAS CRIANÇAS - MONTEIRO LOBATO