terça-feira, 13 de abril de 2010

INTERPRETAÇÃO - A VELHA CONTRABANDISTA

A VELHA CONTRABANDISTA


Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega – tudo malandro velho – começou a desconfiar da velhinha.

Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:

- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?

A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela adquirira no odontólogo e respondeu:

- É areia!

Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.

Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.

Diz que foi aí que o fiscal se chateou:

- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.

- Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:

- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?

- O senhor promete que não “espaia” ? – quis saber a velhinha.

- Juro – respondeu o fiscal.









(Antes de continuar tente descobrir o que a velhinha contrabandeava)
































- É lambreta.

(Stanislaw Ponte Preta)












Interpretação do texto


1) O que a velhinha carregava dentro do saco, para despistar o guarda?
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2) O que o autor quis dizer com a expressão “tudo malandro velho”?
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3) Leia novamente o 4º parágrafo do texto e responda:
Quando o narrador citou os dentes que “ela adquirira no odontólogo”, a que tipo de dentes ele se referia?
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4) Explique com suas palavras qual foi o truque da velhinha para enganar o fiscal.
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5) Quando a velhinha decidiu contar a verdade?
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6) Qual é a grande surpresa da história?
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7) Numere corretamente as frases abaixo, observando a ordem dos acontecimentos.
( ) O fiscal verificou que só havia areia dentro do saco.
( ) O pessoal da alfândega começou a desconfiar da velhinha.
( ) Diante da promessa do fiscal, ela lhe contou a verdade: era contrabando de lambretas.
( ) Todo dia, a velhinha passava pela fronteira montada numa lambreta, com um saco no bagageiro.
( ) Mas, desconfiado, o fiscal passou a revistar a velhinha todos os dias.
( ) Durante um mês, o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.
( ) Então, ele prometeu que não contaria nada a ninguém, mas pediu à velhinha que lhe dissesse qual era o contrabando que fazia.

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segunda-feira, 12 de abril de 2010

TEXTO - PNEU FURADO




PNEU FURADO


O carro estava encostado no meio-fio, com um pneu furado. De pé ao lado do carro, olhando desconsoladamente para o pneu, uma moça muito bonitinha.
Tão bonitinha que atrás parou outro carro e dele desceu um homem dizendo
"Pode deixar". Ele trocaria o pneu.
- Você tem macaco? - perguntou o homem.
- Não - respondeu a moça.
- Tudo bem, eu tenho - disse o homem - Você tem estepe?
- Não - disse a moça.
- Vamos usar o meu - disse o homem.
E pôs-se a trabalhar, trocando o pneu, sob o olhar da moça.
Terminou no momento em que chegava o ônibus que a moça estava esperando. Ele ficou ali, suando, de boca aberta, vendo o ônibus se afastar.
Dali a pouco chegou o dono do carro.
- Puxa, você trocou o pneu pra mim. Muito obrigado.
- É. Eu... Eu não posso ver pneu furado. Tenho que trocar.
- Coisa estranha.
- É uma compulsão. Sei lá.

(Luís Fernando Veríssimo. Livro: Pai não entende nada. L&PM, 1991)

PONTUAÇÃO - A HERANÇA

A HERANÇA


Um homem muito rico estava extremamente doente, agonizando. Pediu papel e caneta e escreveu, sem pontuação alguma, as seguintes palavras:


Deixo meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres


Não resistiu e se foi antes de fazer a pontuação. Ficou o dilema, quem herdaria a fortuna? Eram quatro concorrentes.










(Tente pontuar... somente depois veja o restante do texto)














1) O sobrinho fez a seguinte pontuação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

2) A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o texto:
Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

3) O padeiro pediu cópia do original. Puxou a brasa pra sardinha dele:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga aconta do padeiro. Nada dou aos pobres.

4) Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpretação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga aconta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.


Moral da história: A vida pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras. Nós é que fazemos sua pontuação. É isso faz toda a diferença...

INTERPRETAÇÃO - MEGABYTES DA PAIXÃO

Megabytes de paixão


Se o disco rígido parar e o sistema der pau, ainda resta uma esperança

(Por Max Gehringer )

O Vandemilson -- mais conhecido na empresa como vand@ekonometrikon.com.br -- estava digitando mais um dos incontáveis e-mails que despachava todos
os dias quando, justo na hora de ele teclar o emoticon de fechamento (:-\, "tou meio em dúvida") -- pif! --, o sistema cai. E aí o Vandemilson
se põe a pressionar todas as combinações imagináveis de Ctrl e Alt, até se convencer de que, realmente, aquele era um problema de proporções cósmicas.

E fez então a única coisa que lhe restava fazer: ficou ali encarando a tela escura, com aquela mesma cara que um pingüim faria se, de repente, acordasse no meio do Deserto do Saara.

Dez minutos de vigília depois, como nada de prático acontecesse, o Vandemilson resolveu fazer algo inédito em sua rotina diária: levantar-se da cadeira. E, uma vez em pé, pôde constatar que o local onde trabalhava era enorme, repleto de baias iguais à sua, centenas delas, distribuídas
ao longo de cinco corredores que atravessavam todo o pavimento. Havia até quadros na parede, bebedouros, vasos... e, então, veio a grande surpresa: num estalo, o Vandemilson notou algo ali que ele nunca percebera antes: pessoas! Um bando de gente, em pé ou circulando lentamente, e todo mundo com uma expressão de espanto idêntica à dele. Foi então que ele ouviu um som, vindo da
baia vizinha:

-- Oi.

Levou alguns segundos até o Vandemilson racionalizar e decodificar exatamente o que era aquilo: uma voz! E, aparentemente, humana. Emitida
por uma loirinha que, o Vandemilson logo concluiu, estava se dirigindo a ele.

-- Tudo bem? Eu sou a Natália.

-- Natália... O Vandemilson se pôs a conjeturar como aquele nome ficaria numa fonte Matisse ITC, corpo 14, em itálico. E foi então que a Natália proferiu a frase mágica, que tocou profundamente o coração do Vandemilson:

-- A nat@ekonometrikon.com.br!

A Nat! O Vandemilson já havia mandado milhões de e-mails para ela, e recebido outros tantos, só que nunca imaginara que ela pudesse ter, assim, vamos dizer, cabelo, boca, braços... Mas ela tinha. E, aliás, era até bem configurada, com um design bastante atraente. E o Vandemilson imediatamente a visualizou numa tela, com uma placa de vídeo GeForce 4, sem distorções de imagem...

-- Você é o Vand, né? Adoro os seus forwards!

Naquele exato momento, o Vandemilson se deu conta de que a queda do sistema poderia não ter sido tão catastrófica assim. E, já meio deslumbrado, perguntou a Nat:

-- Isso aí no seu micro é um gravador de DVD?

-- É, então. RW, até 4.7 giga. Eu mesma instalei.

Aquela era, definitivamente, a mulher com que o Vandemilson sempre sonhara. Para ser perfeita, só faltava ela ser digital. Mas a versão analógica até que não era de se jogar fora, e o Vandemilson resolveu pular o setup e partir para o quick start. E arriscou uma questão íntima:

-- Quantos giga tem o seu HD?

-- 60. Mas vou aumentar para 120.

-- E esse ícone ali no cantinho...

-- KaZaA, né? Nível "Supreme Being".


Um ser supremo! Foi uma paixão instantânea e avassaladora. O Vandemilson passou a imaginar como seria maravilhoso passar horas e horas, assim, plugado, com alguém como a Nat. Poderiam compartilhar softwares. Intercambiar arquivos. E um dia, quem sabe, só ele e ela, distantes do mundo, os dois online numa sala de chat. Não dava para perder uma oportunidade daquelas, e o Vandemilson sacou que, dali em diante, tudo seria uma mera questão de resolução:

-- Qual é a resolução de sua tela?

-- 1 024 por 768. Mas eu só curto AVI. E detesto compressão!
O Vandemilson também! E aí ele não conseguiu mais resistir:

-- Escuta, Nat, não quero parecer precipitado, mas... posso pegar no seu mouse?
Um mouse a laser sem fio, suave, que reagia ao mais leve toque dos dedos. E as caixas de som da Nat? Perfeitas e bem torneadas. O Vandemilson tremia só de pensar no hardware dela, com uma nova surpresa em cada slot. Mas... será que ela toparia uma interface?

-- Uma hora qualquer, se você quiser, eu poderia te mostrar meus links...

-- Ah, eu ia adorar!

E aí o Vandemilson sentiu aquela modulação típica de uma paixão ao primeiro clique. Seus olhos brilharam com intensidade (32 bits) e ele deu um longo suspiro -- em wav.
E começou então a pensar (um processo fisiológico de inputs e out puts que não requer o uso de equipamentos periféricos). Ele estava ali na empresa havia quanto tempo? Quase dois anos? E não conhecia ninguém. Nem o nome do seu gerente ele sabia (embora soubesse o que realmente interessava, a senha de acesso dele). Mas o que eram as pessoas que gravitavam a seu redor? Apenas letras e arrobas em seu catálogo de endereços eletrônicos.

Quanto ao resto do mundo, tudo ia e vinha via internet ou estava armazenado em arquivos de imagens digitalizadas. Seu universo inteirinho cabia numa tela de 17 polegadas. E o Vandemilson concluiu que só havia uma palavra capaz de definir tudo aquilo: "debugged". Ou, traduzindo, "felicidade".
Nessa equação de vida, a única variável nova era a Nat. Por ela, quem sabe, até valeria a pena dar um reboot e arriscar um relacionamento mais chegado. E foi nesse exato instante que o sistema entrou de novo no ar. Mas, antes que a Nat desaparecesse na baia, o Vandemilson se encheu de coragem e fez a proposta:

-- Então, fica assim?

-- Fica. A gente se tecla.

E até hoje os dois continuam conectados numa boa, a uma média de quatro send por hora. Quando querem se ver ao vivo, é simples: os dois ligam as webcams de seus micros. O fato de continuarem a poucos centímetros de distância um do outro não conta. Afinal, este é o século 21. O século digital, onde abraços se tornaram abs, beijos se transformaram em bjs e bom humor virou.
Mas o mais importante de tudo é que, se um dia a paixão for para a lixeira, tudo irá ser resolvido sem traumas nem lances emocionais. E em apenas 1 segundo: shut down? Ok.
(Max Gehringer, Revista Exame)



QUESTÕES PARA INTERPRETAÇÃO

1. Nesse texto, a narrativa se desenvolve a partir da queda do sistema de computadores num escritório.

a) Qual é o tema o texto?

b) Como as personagens se identificavam e se relacionavam até esse momento?


2. Ao levantar-se da cadeira, Vandemilson faz várias descobertas.

a) O que ele descobre sobre o seu local de trabalho?

b) O que a personagem sente ao encontrar pessoas trabalhando tão próximas?


3. O autor, ao conquistar o texto, utiliza um conjunto de palavras e expressões comuns a um determinado grupo.

a) A que grupo de leitores esse texto é mais especialmente dirigido?

b) Analisando o veículo de publicação do texto, por que o autor escolheu esse tipo de linguagem para escrever a crônica?

c) O que a linguagem empregada no texto, com tantas palavras e termos ligados à informática, pretende expressar?

d) Observe as expressões de informática utilizadas no texto. Podem-se encontrar algumas no sentido figurado? Quais são elas e em que sentido estão empregadas?


4. Releia do 14º ao 18º parágrafo. Ao se dar conta de que Natália era, definitivamente, a mulher com quem sempre sonhara, Vandemilson arriscou uma questão íntima.

a) Na conversa estabelecida entre eles, percebe-se um jogo de sentidos: o sentido real e o figurado. Qual é o sentido real, denotativo dessa conversa?

b) E qual é o sentido figurado?

c) Após ouvir as respostas de Natália, como Vandemilson se sente?

d) Que termos são empregados para descrever o modo como Vandemilson vê Nat e o que ele sente?

e) Observe a construção das falas do diálogo. São frases curtas ou longas? O que elas determinam sobre a maneira de as pessoas se relacionarem?


5. Esse texto retrata a visão do cronista sobre um tema do cotidiano. Qual o ponto de vista do cronista sobre as relações interpessoais?


6. No último parágrafo, o cronista expõe o que pensa sobre o assunto desenvolvido na crônica.


a) Levando em conta o veículo de publicação do texto e o público-alvo, qual pode ter sido o objetivo dessa crônica?

b) Que sentidos podem ser atribuídos a esse parágrafo?


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